terça-feira, 29 de setembro de 2015

Não é a morte que me assusta.  É o que fica por viver, que me atormenta.  E o que não chego a dizer ou a fazer.   Não é o ficar imóvel dentro duma caixa, o resto da vida.  Ou reduzida a cinzas.  É a falta de sentir o sangue a correr nas minhas veias e as palavras a saírem dos meus lábios.  Não é o ficar dormente até doer, suster o ar dentro do peito e parar para sempre o pensamento.  É não conseguir verbalizar o que sinto, nunca mais.  Não poder mexer os braços para um abraço.  Querer sorrir ou chorar e os músculos da minha cara não responderem. 
Não é deixar de existir que me dá pena.  É não poder ser mais âncora e farol.  Não ter respostas, não ter mais dúvidas.  Não ser o colo e a consciência. 
Sei que morrer é apenas deixar de ser visto.  De ser sentido, também.  Não é a morte que me perturba.  É o luto que farei depois.  Que farás sem mim, então.  É a falta que a minha vida me vai fazer.  Que teimosia esta de querer ser imortal...

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Em pequena costumava brincar à beira mar com os meus irmãos.  Fazíamos castelos de areia, construíamos pontes, abríamos covas ou simplesmente rebolávamo-nos pelo chão, como se fossemos autênticos croquetes.  Lembro-me de saltarmos sobre as ondas que morriam aos nossos pés e de nos aventurarmos a tentar entrar um pouco mais no mar.  Depois, um pouco maiores, mergulhávamos e saíamos a correr das águas frias da Figueira da Foz ou perdíamo-nos no mar tépido do Algarve até as nossas mãos ficarem engelhadas e o corpo dormente.  A praia servia para tudo.  Comíamos, dormíamos, apanhávamos escaldões, contávamos anedotas, cantávamos ao som da viola de algum amigo.  As férias de verão eram praia, praia e praia e os amores mais doces começaram lá.
Anos depois, lembro-me de mim sentada à beira mar a vigiar as minhas filhas pequenas.  A brincar com elas com conchinhas e baldes coloridos.  A carregar sacos e bóias insufláveis e a espalhar protector solar nos seus corpos pequenos.  Ainda aí, a praia continuava a servir para tudo.  Era sinónimo de férias, de liberdade, de gargalhadas.  Também de birras e de canseiras, no regresso a casa com uma delas ao colo e a outra pela mão.  Mesmo assim, não trocava os dias de praia por nenhuns outros.
Hoje, é quase um luxo que me dou sempre que posso, aos fins-de-semana ou nas férias de verão que cada vez são menores.  A confusão das bolas e das pás foi substituída por livros e revistas, por música, por sossego.  Hoje, o céu e o mar são inteiros para mim sem interrupções.  Ainda hoje a praia continua a servir para tudo.  Para bronzear, para ler, para dormir, para namorar, para lavar a alma.  É um escape e um refúgio, ao mesmo tempo.  É o lugar onde nunca me canso de ir.  Para onde vou sempre que posso.  Mas agora, depois da imagem daquela criança morta, embalada pelas ondas, não sei se conseguirei voltar à praia sem ficar com o mar inteiro dentro dos meus olhos...

O amor precisa de espaço.  De tempo.  E de ausência. 
O meu amor precisa de estar só para sentir o teu.  O lugar que o teu ocupa.  O tempo que ele preenche.  A falta que ele me faz.
Amor que é amor tem de sentir saudade.  Tem de contar as horas que faltam pelos dedos.  E adivinhar o desejo que nasce da solidão.
Amor que se preza tem pressa.  Mas sabe esperar.  E chega sempre a tempo, sem sobressaltos.
Amor que é a sério, confia.  E acredita.  Não tem espaço para duvidas, nem tempo para incertezas. 
Amor que está vivo, inspira.  Serve de exemplo para outros.  E de apoio para si mesmo.
O meu amor quase morre na vontade de ter o teu por perto.  Nem eu sei porquê, pois ele está agora mesmo aqui, no lado esquerdo do meu coração.