Ele diz-lhe que a amou desde sempre. Que nunca a esqueceu. Que não passou um dia que não recordasse o seu sorriso. O seu abraço. Os momentos que tinham partilhado.
Ela acredita em tudo o que ouve. Gosta do que ele diz. E sabe que, no fundo, é verdade. Ainda que a vida os tenha separado, apesar da distância, apesar do silêncio.
Ele casou-se com outra. E foi com essa outra que plantou uma árvore, que criou raízes, que colheu os frutos. Foi ao lado dela que viu os filhos crescer e os levou ao altar.
Ela também se casou. No mesmo ano que ele, a centenas de quilômetros de distância e sem saberem um do outro. Viveram a experiência de serem pais quase em simultâneo. Também sem saberem um do outro. Levaram os filhos ao infantário e depois à escola ao mesmo tempo, acompanharam os primeiros passos, as primeiras letras. À distância mas sempre ao mesmo tempo, como se a vida fosse um espelho e eles estivessem de cada um dos seus lados. Longe, mas sempre dentro da memória um do outro.
Um destes dias reencontraram-se no lar onde ela vive há algum tempo. Ele nem sabe o que o fez escolher aquele local, entre tantos outros que andou a ver. De inicio, queria apenas uma casa sossegada, onde tivesse assistência e que ficasse perto da cidade. Fazia questão de continuar a acompanhar os treinos de futebol do neto. E contava com a visita dos amigos, também eles reformados, sempre que lhes fosse possível. Acabou por ficar por ali, como se uma força inexplicável tivesse decidido por ele.
Naquele dia, quando a viu sentada numa cadeira em frente à janela, voltou tudo à sua memoria. Pareceu-lhe que ela estava na mesma, pelo menos aos seus olhos. Ainda antes de se aproximar, já sentia a mão dela dentro da sua, como acontecia quando eram jovens e passeavam de mão dada. Nesse tempo, o simples toque da sua pele era suficiente para lhe fazer acreditar que tinha o mundo nas mãos. O seu mundo, que um dia desabou.
Ela olhou para ele e sorriu. Como se o tivesse visto na véspera e em todos os outros dias. E, de facto, assim foi, mas apenas em pensamento.
Tornaram-se inseparáveis, sabiam que havia palavras que nunca iriam pronunciar mas isso deixou de ter qualquer importância, desde que estivessem juntos. Os restantes utentes do lar, companheiros naquela viagem, achavam-lhes graça e eram cúmplices daquele amor tardio. Sem planos nem promessas. De repente, todo o tempo que os separou ficou reduzido ao ontem e o agora passou a ser todos os dias.
Dizem que o amor não tem idade. Eu acredito!