sábado, 31 de maio de 2014

O segredo é ter paciência com a vida.  Não desesperar quando ela parece desafiar-nos.  Não desistir quando o muro à nossa frente é intransponível.  Não desanimar quando nos enganamos no caminho.
O truque é começar de novo.  Pacientemente, juntar de novo as peças e tentar reconstruir o puzzle.  Tantas vezes quantas forem necessárias.  Até que nos pareça fácil.  Até que nos pareça claro.  Até que seja a nossa casa.
A chave é acreditar.  Ainda que seja difícil, que pareça uma loucura.  Acreditar sempre e antes de tudo o resto.  Só vence quem acredita.  Só assim conseguimos encontrar o caminho e chegar lá.  Onde?  Pouco importa, desde que o percurso seja leve, desde que nos lave a alma.
A fórmula é sorrir.  Sempre, mesmo quando acabámos de ser contrariados.  Mesmo quando nos dói a cabeça e o coração.  Mesmo quando quase nos esquecemos de como é simples e bonito.
A arte é ser feliz.  Ser paciente e feliz.  Porque uma coisa não existe sem a outra. E as duas juntas são o mote para uma vida ímpar...

quarta-feira, 28 de maio de 2014

O que é que leva alguém que não nos conhece de lado nenhum a pedir-nos amizade nas redes sociais?  Que motivação tem uma pessoa que age assim?  Que nos interpela, não para perguntar as horas ou a localização de uma rua, mas para saber se a aceitamos no nosso círculo de contactos.  Que no meu caso até é restrito e se limita apenas a quem conheço da vida real.  Que propósito tem alguém que me pergunta "Posso ser teu amigo?  Não para te ajudar nas tuas tarefas, nem para te acompanhar nas horas sozinhas, antes para ser apenas mais um número na tua lista..."
E como é que se ia sentir essa pessoa se, numa hipótese remota, eu a aceitasse?  Ia integrar-se no grupo como se sempre tivesse feito parte dele?  E comentar as minhas fotos e os meus posts?  E colocar gostos por onde passasse?  Ou, pelo contrário, sentir-se-ia sempre um penetra e acabaria por sair pelos seus próprios pés?  
Tudo isto me parece estranho e anti-natura.  Talvez porque eu ainda pertença ao grupo dos que recebem os novos conhecimentos das mãos dos amigos, dos irmãos, dos colegas.  E gosto que assim seja.  Talvez porque eu guarde as amizades pela qualidade das mesmas, nunca pela quantidade.  E também gosto que assim seja.  Talvez por eu me sentir sem jeito perante a solidão que revela este gesto.  E porque não gosto nada disso...

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Tu ainda não sabes, mas hoje moraste no meu sonho.  Quando ele chegou, tu já lá estavas.  Fiquei até com a impressão que ele se adaptou à tua presença e girou à volta dela.  Não me lembro do que sonhei, quase nunca me consigo lembrar do enredo.  O que importa foi ter-te tido comigo durante toda a noite, durante todo o tempo sem tempo que o meu sonho durou.  Tão real, tão físico, que a minha mão ficou quente dentro da tua e os meus cabelos cheiram ainda ao perfume que te ofereci no último Natal.  De manhã, quando a noite acabou e tive que me levantar, desejei mentalmente poder continuá-lo mais tarde.  Como se a vida real que entretanto ia acontecer fosse um intervalo no meio do sonho.  Ou, então, desejei seguir com ele durante o dia.   Dentro dele.  Eu e o meu dia, as minhas rotinas e os meus imprevistos,  e o caminho fosse só o que eu escolhesse.  Quem sabe?  Logo mais, quando me deitar de novo, será que o sonho me vem visitar? Que espera por mim na almofada?  E te traz, outra vez, inteiro, dentro dele?

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Às vezes acontece-me ter dúvidas.  Daquelas que nenhuma enciclopédia tem a resposta.  Nem mesmo aquelas pessoas que sabem sempre tudo.
Às vezes não sei se fiz bem quando te contei a verdade.  Quando quis ser fiel a mim própria antes de querer não te magoar.  Porque a minha obsessão pela verdade foi maior do que o cuidado que tu me merecias.  Porque isso te fez sofrer.  Porque partiste tranquila e conformada, mas triste.  Porque me agradeceste pela suavidade com que te contei a verdade, mas sei que  trocarias a tua vida para que isso não tivesse acontecido.  Perguntaste se eu sabia e fizeste-me prometer que te contaria a verdade.  Não me deste tempo para pensar.  A opção de te mentir e de viver o resto da vida com isso parecia-me insuportável.  Decidi contar-te o que sabia.  Desse por onde desse, também não tinha outra escolha, não é verdade?  
Contrariamente a tudo o que esperavas, ele tinha mesmo outra mulher.  Alguém muito próximo de ti, alguém que lhe lembrava que a vida estava ali, que ainda existiam sorrisos e sonhos, gargalhadas e promessas.  Para além da tua doença, para além da tua morte.  Alguém que não te contaria nunca esta verdade, apenas para não te sentir a sofrer.  
Às vezes acontece-me ter dúvidas.   E de todas as vezes que ele pronuncia o meu nome  quando me está a amar, eu sinto que os seus olhos apenas veem o teu rosto e não o meu. E no meio de tantas dúvidas que me assaltam, essa é a minha maior certeza...

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Às vezes apetece-me ir.  Sem destino, sem itinerário, sem objectivo.  Somente ir.  Pegar em mim, meter-me dentro de uma mala e sair por aí, sem pressa de voltar.
Às vezes parece-me sentir que estou há demasiado tempo no mesmo lugar.  Na mesma terra, na mesma história, na mesma vida.  Talvez por isso essa urgência de ir.  De não ficar em lugar nenhum, simplesmente ir...

quinta-feira, 8 de maio de 2014

E o que fazer com a saudade quando ela nos aperta o peito e nos embrulha a voz?  Quando faz  o nosso pensamento ficar preso a lembranças e não se libertar delas porque não quer?  Ou porque morreria se lhas tirassem?  Porque sem elas ficaria irremediavelmente quebrado para sempre?
E o que fazer com a saudade que acorda devagarinho connosco e nos acompanha durante todo o dia até ao anoitecer.  E que, à noite, nos espera de novo na cama para aí povoar os nossos sonhos? Porque é no silêncio e na escuridão que as lembranças tomam forma e insistem em se fazer notar.  E ao perceberem que estamos sozinhos, ali ficam ao nosso lado, a velar-nos o sono até voltar a amanhecer?
E o que fazer com o vazio que dá corpo à saudade?  Como faço para o esvaziar dela? Alguém me diz?
Há dias que não precisavam de ter acontecido.  Que fazemos de conta que não existem.  Que tentamos esquecer o que nos lembram.  Em vão.  Porque eles insistem em estar no calendário, ano após ano.  E em nos recordar o motivo de os termos marcado.
O de hoje, por exemplo, tem com ele a tua ausência em todos os nossos dias.  Mais do que qualquer outro dia, este cinco de maio lembra-nos que mais um ano se passou sem te termos na nossa vida.  Como é possível?  Que desperdício, Miguel!  Como tudo poderia ter sido tão diferente, tão melhor, tão mais feliz!
Se eu soubesse das estrias que ia ter na barriga e dos enjoos...
Se eu soubesse do peso que ia ganhar e do cansaço...
Se eu soubesse da sensação de pontapés por dentro da barriga e do meu mundo a virar-se de cabeça para baixo, semanas depois...
Se eu soubesse das dores que ia sentir no parto; de não querer gritar para que o nascimento fosse harmonioso como desejo que seja o resto da vida...
Se eu soubesse a aventura que foi amamentar... e trocar as fraldas... e cortar as unhas e dar banhos...
Se eu soubesse das noites que ia passar em claro, das vezes que chorei sem saber porquê e das outras, em que só queria parar o mundo para ficar a olhá-las enquanto dormiam...
Se eu soubesse do que cresci com elas e do que aprendi por causa delas... das vezes que ralhei e levantei a voz e das outras que abracei e confortei...
Se eu soubesse das festas na escola, das reuniões com os professores, das idas ao médico...
Se eu soubesse da primeira comunhão, da primeira ida à praia, da primeira discoteca, dos exames na escola, dos diplomas e da faculdade...
Se eu soubesse das aulas de condução, das que fizemos sozinhas, de me deixar conduzir por elas logo depois...
Se eu soubesse das conquistas, das derrotas, das confidências e dos desabafos, das histórias que lhes contei e que também ouvi...
Eu perceberia melhor porque motivo é que de tudo o que tenho sido na vida, ser MÃE é mesmo a melhor parte...♡♡

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Crónica de um desamor.
Tu nunca me percebeste.  Nunca te preocupaste em saber o que estava por detrás das minhas atitudes.  Por trás dos meus pensamentos e palavras.  O teu julgamento foi sempre feito sem qualquer análise prévia, sem cautelas, com leviandade, diria mesmo.
Quando me afastei de ti, naquele dia fatídico, não foi para fugir de responsabilidades ou compromissos, mas sim porque percebi que o caminho era estreito para dois e que o farias melhor sozinho.  Nunca quis tomar o lugar de ninguém, o meu metro e setenta e três de altura não cabe em espaços pequenos e se há algo que faço bem é não me impor.  Nunca o fiz e jamais o farei, podes crer.
Tu nunca acreditaste que ficarias sem mim desta maneira.  Achavas que eras dono e senhor do meu coração, dos meus sentimentos, do meu futuro.  Pensavas que eras insubstituível, olha só que estranho.  Ninguém é insubstituível, nem mesmo nós próprios.  Basta apenas tomarmos consciência disso mesmo e percebemos o tamanho que temos na nossa vida e na dos outros.  E esse às vezes é tanto e esse às vezes não é nenhum...
Tu nunca me compreendeste.  Fazias que sim, querias mostrar-te cordial e amigo, mas tudo era falso, tudo era uma bola de sabão.  E essa rebentou antes mesmo de tocar em nada.
Tu nunca me amaste.  Amar mesmo de amor a sério.  Daquele que pega em nós e nos leva por aí a flutuar.  Daquele que nos faz acordar de noite e ficar a ver o outro dormir, só porque percebemos que a sua respiração é diferente do habitual.  Daquele amor que nos trás de volta à vida quando o resto do mundo nos atira para o chão.  Tu não sabes o que isso é... 
Tu nunca ficaste feliz por me ver.  Mesmo quando me sorrias à chegada eram já as minhas costas que saudavas ao ver partir.  E quando perguntavas quanto tempo precisava para me ires buscar de novo para perto de ti, já fazias eco dentro de ti da minha resposta curta e certeira - nem o resto da vida será suficiente para isso.
Há muito que tu já não existes para mim.  Acho mesmo que nunca saíste da minha imaginação.  Dos meus pesadelos, da vida que eu nunca vivi...