domingo, 28 de fevereiro de 2021

As coisas que eu tenho para te contar, amor.  Sobre a saudade que me veste os dias.  Sobre a tua ausência em mim.  E na nossa casa.  Sobre  a falta que me faz a nossa rotina que tanto prezamos.  Sobre os teus abraços.  Os nossos.  E os telefonemas.  Sobre a tua voz no meu ouvido, no meu pescoço.  Sobre o teu perfume no corredor.
Preciso de ti aqui, bem dentro da minha vida.  A interromperes as minhas falas com um "já te disse que te adoro?"  A deixares-me sem ar quando me dizes "casava contigo outra vez".  A fazeres-me rir e relativizar os percalços que vamos tendo no caminho.  Nada disto é para levar demasiado a serio...
O mundo continua a rolar à velocidade habitual e eu estou parada, suspensa,  dia após dia, que uma voz desconhecida me traga notícias tuas.  Conto os dias, um atras do outro, para onde estou a ir?  Alguém me conta?

sábado, 20 de fevereiro de 2021

Enquanto dormes, eu espero.  Desespero.  Rezo e creio. Choro e questiono.  Enquanto dormes, eu vivo.  Sobrevivo.  Respiro maquinalmente, sinto o ar entrar e sair, atabalhoado e sem ritmo.  Enquanto dormes, eu recordo.  E desejo. E sonho.  Arrumo as memórias (tantas) no coração,  busco espaco para novas historias, para novos dias.  Enquanto repousas, eu canso-me.  Faço coisas e coisas, invento-as, para que o relógio nao pare, para que o tempo ande mais rapido que a minha dor.  Para que o cansaço me mate e me impeça de penssr.   Enquanto dormes, eu estou acordada pelos dois. À tua espera ♡
Quero ser árvore.  A árvore.  Ser sombra.  Ser madeira e fogo.  Ser folhagem e raízes.  Ser tronco.
Quero durar mais do que uma vida.  Se não cair nas primeiras semanas, virada pela ventania.
Quero renovar-me a cada primavera para quase morrer quando chegar o outono.  E renascer depois, novamente, mais à frente.
Quero crescer até ao céu, ficar inatingível.  Ou, então, ser uma árvore baixinha, rasteira e chamar-me arbusto.
Quero ser a árvore solitária na paisagem, como que ali esquecida.  Ou viver dentro da floresta, no meio de milhares de outras. 
Quero ser árvore.  A árvore.  Para que tu possas subir pelo meu tronco quando quiseres ver mais longe ou ficares sentada no chão, encostada a mim, quando for hora de descansar.  Tanto faz...

sábado, 3 de outubro de 2020

Em modo:
Aproveita bem o agora, o já,  o momento em que estás, guarda-o no peito, fixa-o na cabeça e prende-o no coração com a mais bela moldura que encontrares.  Um dia (não sei bem quando, só sei que sim...) quando tudo se esfumar, quando as forças se forem e os outros não tiverem tempo, quando os ponteiros do relógio te confundirem e a monotonia do tic-tac te fizer dormitar, quando a tua voz não encontrar eco e a nitidez das imagens ficar turva, serão essas as memórias que terás por companhia... ❤

domingo, 20 de setembro de 2020

Saudades

Saudades tuas.  Sempre.  Do teu abraço.  Da tua voz.  Do toque da tua mão na minha cara.  Saudades tuas. Muitas. De te ler.  De te ouvir.  De dizeres que eu te leio os pensamentos.  Dos teus pensamentos materializados.  Saudades tuas.  Tantas.  De me acalmares.  De me pores o coração fora do peito.  De o levares ao colo sempre que saías da minha cama.  Saudades nossas.  Todas.  De nos fundirmos num só.  De sermos a pele um do outro.  E a alma. Saudades tuas.

domingo, 19 de abril de 2020

?

Como será o depois? Quando os meus braços se puderem fechar em volta do teu corpo?  Quando os meus lábios tocarem os teus, sem culpa? Sem medo? 
Quando ficar em casa puder ser uma escolha? Ou quando ir trabalhar não necessitar de autorização? 
Quando as portas se abrirem de novo, quando os sorrisos não ficarem fechados, dentro das máscaras? 
Como será o depois? 
Saberemos ser os mesmos? Teremos a mesma força, o mesmo sentir? 
Ultrapassaremos a angústia e a incerteza?  
Saberemos encontrar-nos a nós proprios, antes de ir em busca do outro? 
Seremos os mesmos em frente ao espelho? E sem espelho? 
Seremos depois as pessoas que diziamos que eramos, antes disto acontecer? 
Como sera o depois?

quinta-feira, 19 de março de 2020

Covid-19

Daqui por uns dias ou semanas, daqui por uns meses, talvez, vamos todos recordar-nos deste tempo e sentir que estamos a acordar de um pesadelo. Vamos olhar para o espelho e ver a nossa imagem reflectida sem ter a sombra do medo a emoldurá-la. Vamos poder voltar a sorrir sem angústia, matar a sede dos abraços, ou tocar nos objectos sem receio. Vamos ver gente na praia num dia de sol sem cobrar por isso. Vamos, também nós, poder estar lá. Sem medo, sem culpa, como sempre fizemos. Vamos ficar em casa porque queremos ou sair à rua livremente. Vamos beijar os filhos ou os pais, abraçar os amigos, cumprimentar os menos chegados com um aperto de mão forte e seguro Daqui a uns meses. vamos todos reunir-nos aqui na sala, numa outra casa ou no restaurante habitual, festejando o que quer que seja mas, de certeza, celebrando a vida e a saúde.
Daqui a uns dias, como ontem, como hoje, continuaremos a acordar com a certeza de que nada temos como garantido. E de que nada nos pertence. O nosso tempo de ócio, o nosso hobby, o passeio diário, a rotina das compras, o café na pastelaria por baixo do escritório. Nada é nosso, nada é certo, nem algo tão natural como um beijo ou como o simples acto de respirar livremente. Daqui por uns tempos (nenhum de nós sabe quanto...), vamos olhar para trás e contar uns aos outros a dificuldade que tivemos em enfrentar este retiro forçado e como conseguimos ajudar a combater este inimigo microscópico, que afinal é imensamente maior que nós.
Esta é a minha mensagem de esperança e de fé, apesar do medo, apesar desta imensa angústia.